quinta-feira, 5 de maio de 2011

momentos de carinho.


MOMENTOS DE CARINHO




        Na manha o radio relógio despertava com uma canção, despertando do sonho agitado. Sentada na cama mais uma vez a memória buscava os mais doces momentos , enquanto o corpo se preparava para mais um dia de trabalho.
         Era uma tarde de verão e chovia, quando nos abrigamos na marquise, a conversa, aparentemente banal, foi se transformando em coisa seria. Ao fixar nossos olhos, ali começaram os momentos de carinho, feito pelo destino com toda doçura e esmero; a historia de um amor perfeito.
          Hoje uma saudade enorme invade meu ser, eu poderia ficar aqui com estes momentos. Como aquele em que ele colocou os braços para trás e eu recostei em seu ombro, a primeira vez que ficamos tão próximos, ele me abraçou... O tempo parou naquela noite.
           Foi quando acordei com ele me olhando, o que pensava não me disse, mas a forma como me amou foi profunda;
           Cada encontro era lindo, com flores, ele sempre encontrava uma florzinha pelo caminho e trazia pra mim, e bombons, um dia cismei em “ficar-de-mal”, e ele fez tudo para que eu dissesse o motivo, me apareceu com um cãozinho branco peludo, de olhos azuis, com o nome de Koda, por causa do filme que assistimos juntos, e quase chorei, ele me ofereceu como pedido de perdão. Eu amei aquele cãozinho, o abracei dizendo que era crise de tpm, mas nunca quis lhe contar a verdade.
         Na noite do meu aniversario me fez uma surpresa, apareceu no colégio e me levou para o mirante. Sentado no capô do carro tocou a musica que eu amava rock in roll lulu bye de B.J. Tomas. Jurou amor eterno tendo as estrelas por testemunhas enquanto a cidade lá embaixo dormia;
          Gustavo, eu chamava baixinho, e ele me olhava como se a  pessoa mais importante o chamasse, quando via uma criança, parava para admirar e dizia que nosso filho seria um grande set humano e que faríamos tudo para vê-lo sorrindo, e quando chorasse tria sempre seu ombro amigo.
          No domingo de páscoa ao acordar, encontrei um ovo de chocolate enorme, um coelho de pelúcia com dezenas de coelhinhos, e um bilhete “quem imitarmos a mamãe coelha?” ele não podia ser desta terra, não existia, eu dizia.
           Sempre tínhamos um tempo pra ficar a sós, ele dizia que era importante saber o valor  da presença e a saudade na ausência.
           Um dia a chuva caia copiosamente e eu queria lhe beijar naquela chuva, ele estava com medo de se molhar, mas eu insisti tanto que me pegou pelas mãos e ficou me beijando até eu perder o fôlego. Depois me olhou nos olhos e disse: “maluquinha eu amo você! Para de querer provas de amor.”
            O chá-de-camomila, a rede, o livro, as revistas de desenho... Tudo ele me pedia que desse um tempo e fosse ajudá-lo na mecânica. Eu voltava suja de graxa e ele me apertava o nariz... Aquilo sim, completava a bagunça.
             Nossos banhos, nossas conversas, as batatas fritas, o filé acebolado, nossos vinhos... Ah! Se eu pudesse voltar atrás e tomar um desses momentos nas mãos. Brincaria com eles indefinidamente, ele ficaria eternamente preso em minhas mãos.
             Quando conheci Gustavo, ele me dizia que eu era a mulher perfeita, independente e feliz. Mal sabia que eu era carente.
              Foi ai que recebi uma carta.
“Quero ser seu namorado”
Não posso lhe dar muito, sou pobre.
Mas vou lhe mostrar a beleza de um por de sol
Com seus raios refletidos nas águas,
Deixe-me amar você
Podemos colher sonhos como frutas
Na arvore da realidade.
Podemos ir longe ou caminhar aqui por perto.
Posso lhe dizer que a amo mais que a mim mesmo.
Faço em um papel marche um céu enluarado,
Tomando-a pelas mãos, apertada em meus braços.
Maluco?Não!Apaixonado por você...
É doce menina, é sedução em forma de mulher, és pura no sorriso maldosa no olhar, és a mais perfeita a meu ver, no modo de amar.
Quero te encher de alegria, te amar todo dia, te mostrar que o tanto.
Que choraste não é nada diante do quanto te farei sorrir.
Deixa que te fale coisas serenas, não provoque minha ira, pois se corres de mim, não posso me corres de mim, não posso me conter te prendo em meus braços e te sufoco com beijos ate não poder mais.
Minha adorada pode te contar algo? Quero que guardes para sempre
Já te amava antes de chegar a minha vida, só não sabia que eras assim tão perfeita, linda e feliz.

    Juntos numa noite clara fizeram uma brincadeira, cada um dizia uma palavra e foi assim que surgiu...
                       

             O que sou?

Sou terra, sou água.
O barro para você pisar
Sou lua, flor perfume pra você enamorar.
Sou poesia triste, um coração a pulsar.
Pulsar no ritmo que você quer
A hora que precisa, no momento exato, a pura certeza da morte.
Caso não sinta esse pulsar
Vagando feito andarilho, sem rumo, sem certeza.
Uma única esperança...
De ver seu rosto surgindo no meio da multidão
Por entre as gotas de chuva
Que não conseguem molhar minha solidão
A pura e singela flor, que desfolhou e caiu.
Deixando o espinho rasgar a carne
Lágrimas vermelhas da dor que causa sua ausência;


  Enquanto os dias passavam, tão rápidos, domingos inteiros juntos.
Trilhas e passeios, motos e carros, corridas, e o futebol a vida nos prega cada peça.
Quem diria que todos os momentos difíceis, se tornariam fáceis, nada se compara a nenhum momento passado ao lado de Gustavo.
    Foi numa tarde que ele começou a sentir dores fortes, na cabeça, aquela tarde, em que fizemos uma loucura d jipe, durante toda a madrugada, me olhou e pediu que nunca o deixasse. Ainda dormindo tentei lhe responder, mas me beijou de leve e assim adormeci.
    As dores apareciam e desapareciam sem nenhum aviso, depois da bateria de exames ficou claro que  ele deveria se cuidar. Cortamos frituras e certos tipos de comida, doces enfim, praticávamos caminhadas. Um dia no parque, ao remar o barco no lago, um peixinho cor de prata brilhando ao sol, veio junto com o remo e tentamos pega-lo, como sorrimos naquela tarde! Foram meses de gloria e os melhores da nossa vida.
    E foi depois  daquela tarde que a dor voltou violentamente, nos deixando aflitos e dali fomos ao hospital, ali todos o admiravam ele sempre alegre, fazendo planos de aumentas a oficina comprar uma rede nova, reformar a varanda, e o quarto, termos um filho... Aos poucos retomamos a rotina de nosso dia a dia.
    A noite estava linda, clara e uma lua crescente caminhava para ficar cheia, da janela a olhávamos, sempre imaginando um futuro próspero e os olhos dele brilhavam, ainda não havia sido descoberto o que levava embora o ser amado.
     Naquela manhã o serviço acumulado na oficina, ao que parece se o dono não estiver por perto nada anda, mas eram funcionários competentes, bolo e café muita risada, e um pouco de graxa para não perder o costume, ficamos ali., eu separando correspondência e a contabilidade, o caixa,  organizando tudo, ele fazendo o que mais gostava, embaixo de um carro, apertando aqui e ali, de longe sabia o que um carro estava sofrendo...como dizia ele, depois do almoço, um cochilo, era hora de buscar os resultados dos exames e ele não sabia o que tinha até aquela tarde.
No fim do dia, fomos juntos eu ele os mecânicos e Joana, a nossa mecânica nota dez. ao meu lado me olhava, parecendo saber que a minha dor estava próxima, ainda lembro o olhar dela ao apertar minha mão; enquanto o medico nos olhava, um aperto no peito me tomou, e ele ouvia a conversa pausada do medico, ele dizia que um tumor antes pequeno estava crescendo e a região onde estava era um local de risco, não podia mexer, mas se quisesse tentar a operação, não havia garantia, tomando remédios e começou a quimioterapia  mas nada nos tirava o medo e a insegurança.
Sabíamos que logo tudo estaria acabado, assim viajamos em todas as oportunidades, em todo instante, imaginávamos o futuro e lembrávamos o passado.
    
   Se eu pudesse
Ah! Se eu pudesse
Subornaria a morte
Faria-te eterno
No palco da vida
Mesmo os cabelos
Embranquecendo
O mito
Com o olhar de malicia
O sorriso misterioso
E eu
Simples mortal
Daria-te a vida que me resta
Para que seus lábios não deixassem de sorrir
Sua voz não calasse seu corpo não tombasse.
Mas não posso deter o tempo, e o que me resta é pouco.
Apenas posso amar-te mais e ainda alem da vida continuarei a amar-te.
    Naquela noite nos amamos com sofreguidão, com ânsia e desespero, como se nada mais no mundo importasse, nossos corpos fundiram-se em um só e nossos lábios não se desgrudaram um só segundo, todo tempo naquela noite fomos um, com lagrimas e com promessas, meus dedos passeavam por uma cabeça lisa e sem pelos, a quimioterapia levara a macies em que meus dedos estavam acostumados, a boca seca não molhava meus beijos, o corpo magro não apertava com força, senti naquela noite a diferença e notei que o amava mais que antes. O dia amanhecia e não dormimos, o medo de nos separar era enorme, naquela manha, antes de abrir a oficina, nos olhamos e vimos que estávamos os dois sofrendo e ele viu meu medo, e então, após um banho, nos amamos com suavidade, e com carinho, e assim dormimos, não ouvimos o barulho da oficina sendo aberta, nem a conversa que sempre ouvíamos, naquela manha, o tumor invadiu parte do cérebro e era tarde demais.
    Ele se foi nos meus braços...
    Mais uma vez o dia recomeça, recordo-me daqueles momentos que não posso deter nas mãos, sempre irei lembrar o sorriso, o olhar, o jeito de amar, as pequenas coisas o amor em que fazíamos cada instante de minha vida foi preenchido com amor e muito carinho por ele, não faltou nada e nem excedeu apenas completou.
    Por mais que saiba que ele esta bem, que foi um grande homem e que Deus o guardou consigo, isso não me impede de chorar.
    As lembranças têm que ficar para traz guardadas em minha memória o trabalho me espera, o barulho da oficina me enche de alegria. Eu sei que não consigo ficar triste por muito tempo por causa dele, dói a ausência. Como eu queria ter os seus braços e sua proteção, novamente!
    
Irreal

A linha do horizonte
O sol que se vai
A pouca dor ainda persiste
Sentimento que se perde

Aos poucos, naufrago na dor
A que dilacera a alma
Só um milagre, a curta paz
Vai e vem
Milagres não acontecem
A vida é uma onda
A morte não se pode subornar

A morte é paz constante
Quem garante que não é?
A morte é flutuar
Estando perto dos que amamos
Sem nunca ter que nos separar

A morte é realidade
A vida imaginação
A morte é paz
A vida, tribulação.

    Sinto-me viva e quero estar ao seu lado, preciso de um alento.


Sonhos rasgando o sono
Tirando do subconsciente
A pura  cálida doçura
Pesadelos inundam
Como uma tempestade, o palco
Começa a cena
A morte com seu olhar gelado
Faísca de ternura a convencer
Do corpo inerte, que lá do outro lado
Existe paz
E suas mãos pequenas
Trazem estrelas
Por certo para convencer
Que o caminho seta iluminado
Do seu nariz afilado, um sopro azul
Nos lábio um meio sorriso
O cabelo lhe cai sobre a face esquerda
Deixando a mostra
A falsa ternura que existe no olhar.
Saio devagar e caminho em sua direção,
Chego bem perto, quase toco sua mão,
Neste instante sua voz vinda do pensamento,
Chega ao meu intimo: ”_volte a dormir, ainda é cedo!”.

   

Continuar sem Gustavo não é fácil, afinal tínhamos mania de resolver tudo junto e as vezes me pego pensando se fosse ele o que faria, dirigir tudo não é fácil, e resolver as coisas que só ele poderia resolver, é assim que me pego olhando para o lado e buscando um socorro aqui outro ali. É difícil continuar sem ele.


    Eu o busquei para mim
Em um lampejo o vi surgir
As brumas se desfazendo
Trazendo seu rosto, seus braços.
Deslumbrada, fiquei muda petrificada.
Apenas o murmúrio do vento me fazia arrepiar
O vento imitava sua voz
Aos poucos fui me acostumando
A claridade pequena a minha frente
O que era escuridão tornou-se fonte de luz.
A lua se escondeu, as estrelas se apagaram.
Tímida, medrosa, caminhei naquela direção.
E ao tocá-lo uma imensa paz me dominou
Sinto-me segura
Ele foi a gota dágua que me salvou
O raio de sol que me aqueceu
Tornou-me inteira não me tocar
E eu, verso rasgado, estrofe mal-terminada.
Tornei-me poesia cantada
Por isso quando a tristeza me ronda
Busco-o no fundo ma memória
Ele é o rio que me leva para o mar.

 
Um ano se passou e tudo ficou na lembrança, uma buzina insistente me apressa.
 Depois do café saio correndo para o trabalho e tudo que vivemos tenho que deixar de lado.
     Afinal, esse anjo que caiu ao lado que era seu, me espera  e como se fosse um sonho, ele as vezes fala as coisas que tenho a impressão de que seria exatamente aquilo que você diria se estivesse aqui, estranho como na hora de amar tenho a sensação de estar nos seus braços, embora sejam diferentes, tem o mesmo carinho e cuidado por mim; isso me torna mais feliz, e me da animo para continuar no mundo sem você.

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