sexta-feira, 6 de maio de 2011

Guerreiras da fial Nelson Hungria




Para você
Que fica na fila
Desde o amanhecer,
Olhadas de cima em baixo,
Como se fosse o último ser.
Para você,
Que encontra saída pra vencer,
Nas filas do presídio,
No frio e no calor
Sacolas e cobertor
Cheiro bom de comida
Cheiro de amor
Amor sincero
Para o filho, esposo, irmão.
Os agentes não entendem
Discriminam,
As agentes na revista, no quartinho,
A vergonha não existe se existir, raios X.
Abrem-se mulheres que não dormem sem camisolão,
Meninas dos sonhos do anexo e pavilhão.
Braços saudosos de abraços, corpos sedentos por amor.
O caminho rodeado de plantas que detentos molharam,
A espera da amada que ali vai passar.
A hora chega, passam-se os portões os agentes olham.
O desfile das mulheres, lá fora sandália de salto alto,
Cabelos escovados, roupa de festa.
Lá dentro chinelo de dedo, roupa sem detalhes,
Cores frias.
Por dentro a vida corre em direção a delícia de estar
Algumas horas com o amado.
Na fila, garotos vendem lugares,
Amizade sincera se encontra ali, dividindo as mesmas dores,
Costurando corações partidos,
Desabafos e injustiças ficam fora do portão.
Tem bonde, descida, ficam ali vidas divididas.
Na saída o aperto na alma,
Olhos marejados, futuro incerto.
Que vida!
Mas elas resistem bravamente,
No frio, calor, chuva...

Para essas mulheres, fica meu abraço e consideração.

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