domingo, 8 de maio de 2011

Fonte de amor.


Fonte de amor

Pai
Hoje é domingo,
Já estive em sua casa
De manha e também à noite
Não sei que fome e que sede
Foi essa nesse dia
Quis me embriagar
Do teu amor
Mas no ultimo banco
Ao lado de uma linda criança
Que tinha os cabelos encaracolados
Olhos castanhos e um sorriso fabuloso
Nos toques mágicos de seus dedos
Mudou-me o penteado
Fez-me uma linda trança
Disse-me que estava lindo
Ao lhe perguntar se estava
Lindo como ela,
Então me sorriu e vi
Minha noite enfeitada
Com isso enriqueci
Vi que podia ir em paz
Após a palavra e sua bênção
Satisfeita, cheia de amor
Do teu amor
Do teu carinho
E do jeito de me mostrar
Que contigo eu só tenho a ganhar
Agora satisfeita vou me deitar.
Graças te dou oh! Pai.
Graças dou por tudo.
Amem!

emoçoes.


Sou feita de brisa, ar, sol e mar.
Doce, salgada, verde azul.
Frases soltas no vento pescam uma.
Não vou desistir, de amar você.
Penso em uma vida que surgiu em mim
Responsabilizo por essa vida
Que fez minha vida feliz
A brisa me contou um segredo ao beijar meu rosto
Enchi-me de ar puro, absorvi um raio de sol.
Senti-me o mar atirando espuma resto de onda,
Coloquei para fora toda emoção, sonho poesia e cor.
A realidade se fez rosa, talvez às asas da esperança em que estou usando, me leve para uma viagem curta;
Talvez continue seguindo o caminho do rio e deságüe no mar, talvez vire pó, estrela ou quem sabe me desfaço no ar;

Meu amigo.



Amo-te com palavras nunca ditas antes
Com mais sincero e mais profundo amor
Querendo-te bem e com sucesso na vida
Amo-te assim:
Suave como o abrir de rosas,
Como o rio que busca o mar,
Assim sonho em te encontrar.
Amo-te somente, por amar o amor.
E o amor, esse sentimento que resiste a paixões,
Ao frio e ao calor,
A aspereza da vida, ao amargor do fel
A indiferença, o abuso, o abandono; ao desamor.
Porque és o meu mais puro sentimento, és aquele que chegou enxugando as lagrimas de uma dor, de um desalento, de um profundo vazio, aquele momento em que eu queria guardar para sempre, você me fez ver que a dor não se guarda e encheu de coisas novas o meu interior.
A você meu amigo, hoje meu amor, so tenho a dizer que:
Realmente o amor é mais forte que uma represa quando estoura os muros de proteção.
És a mais doce poesia e o mais claro raio de luz a me guiar
E por tudo que me tens feito. E ensinado,
Obrigado é pouco.
Te amo é nada
Diante do que sinto quando estou ao seu lado.
E a felicidade de saber que você existe quando estou distante.
Por tudo que me faz sentir, ate mesmo o pouquinho de ciúme
E saudade,
És tudo para mim.

Anjo ferido


             Anjo ferido

Na noite fria de junho
Caia devagar,
Vi as asas se juntando
Sem forças de voar
Vi as gotas vermelhas
Do peito a sangrar
Os olhos se fechando
E os cabelos sossegando
Na pedra gelada da rua
Caiu o ser angelical
A boca azulada
Parecia dizer algo
Palavras ininteligíveis
Ate adormecer
De repente revoada de asas a bater
Juntando-se ao anjo ferido
Vendo-o morrer
Mas anjos não morrem
Unidos começaram a cantar
E eu vi nova face surgir
Dos dedos saiam chamas
E os lábios tornaram-se róseos
Como a aurora
Os olhos se abriram e os cabelos esvoaçavam
Os pés tomaram nova forma
E aos poucos batia as asas novas brancas como a neve
E começou a voar lentamente
Lançou-se no espaço eu podia vê-lo sumindo no ar
Por trás da cortina escondi meu rosto
Envergonhada por olhar o peito ferido cicatrizado
Tocando meu próprio peito onde senti nós de costura
Na direção do coração
Senti um arrepio ao olhar em seus olhos e me ver olhando para mim mesma.
Foi assim que me encontrei na manha de um novo dia
Sem saber o que fazer sem aquele amor que partia.



sexta-feira, 6 de maio de 2011

a terceira margem







Você ficou no meu olhar submergiu no meu interior
Foi uma aventura, descobrimos os segredos da vida.
Falamos a íngua do tempo
Desbravamos o raciocínio invertemos os papeis
Falamos de nos
O livro de areia, não tinha começo nem fim.
A terceira margem onde estivemos juntos
Lá na mesma historia
Na experiência contada, fomos versos de um poema.
A nota festiva de uma canção
O som das águas, o rio correndo.
A vida fluindo e valendo a pena
Nos braços um do outro
Nos lábios úmidos, no mesmo sorriso
A noite ganha;
Ce vai, cê volta ta?

Por onde voce for.


                        

Leve com você a certeza,
Que foi o sol que brilhou na tempestade
Que me fez sentir vontade de viver novamente
Entre tantas pessoas, me fez rir enquanto chorava
Foi você que me ouviu de madrugada
Que me amou como se ama uma mulher de verdade.
Eu pensei que não sentiria tanto a sua falta
Mas eu quase parei e gritei que queria você
Meu amigo eu não sei o que vou fazer aqui sem você
Mas eu vou fazer como te prometi, ser forte e não voltar a trás em nada.
Que havia proposto, e vou te amar do meu jeito e sei que logo estaremos juntos novamente.
Quando a lua brilhar vou me sentar e olhar as estrelas, refletindo o brilho do seu olhar, quando a chuva cair, vou nela me molhar e imaginar que estou com você a brincar. Vou estar com você em qualquer lugar, e quando estiver só, vou te buscar.
Estarás sempre comigo
Levando-me a sonhar,
Meditar,
Buscar,
Um novo começo
Para não te esquecer.
Vou ficar aqui, te esperar. Sempre;
Em cada instante do meu viver

.

Presente


                                            

     Era manha de outono, um sol entrava pelas frestas da cortina, um cheiro bom de rosa se abrindo chegou e suas narinas, o levantar preguiçoso e o caminhar lento ate o banheiro, ate ali foi um fato corriqueiro, a surpresa foi ao abrir a porta e olhar para fora a rua a chamava para caminhar, em cima dos fios os pássaros em uma algazarra só, e filhotes de cães, passeavam despreocupados, o caminho ate a padaria, parecia algo novo, como se ali, nunca estivesse passado, Era realmente um dia novo. O que será que houve?_ se sentia assim, em um estado letárgico, as pessoas, o ar, tudo era novo... Até seu caminhar, sua postura, seu jeito.
     Foi quando ao retornar da padaria, encontrou em sua caixa de mensagens, uma carta e isso foi coisa de Deus, ao abrir ali estava a resposta as perguntas. Que encabulava seu ser a tantas noites, se sentiu livre, madura e especial, livre das dores que carregava na alma há tantos anos, livre de sentimentos mesquinhos, do ciúme, da solidão, do abandono. O que mais temia, era agora um presente muito querido.
     A paz de Deus... Essa paz que alivia as dores da alma, e pensar que ela andou por tantos caminhos, tantas, estradas, com amores mal resolvidos, amores impossíveis, querer mudar alguém pode ate ser mais fácil que mudar a si mesmo. Mas Deus mudou seu semblante, sua voz o seu caminhar.
     A oração que fez abriu um espaço...
    
     Senhor entra o meu coração esta uma bagunça,
Cheio de poeira e telhas de aranha. Aqui não tem nada
No lugar, mas senta, espera, vou limpar a cadeira, meu.
Pai senta aqui, quero te agradecer, por tudo, antes quero.
Pedir perdão, pois não sou digna nem merecedora do que.
Tens feito em minha vida. A casa, a saúde o amor, os animais.
A vida, o trabalho, os amigos, o estar em sua casa.
Sei que sou tua e que me amas, mas eu tenho errado tanto...
Caminhado por caminhos que não são teus, feito coisas que.
Desagradaram-te muito, e a minha casa, meu coração esta assim.
Mas, quero que saibas que desde criança, eu sempre quis ser.
Aquela pessoa fiel, temente e leal,
Mas a vida me foi dura demais
E acho que não consigo mais continuar, estou muito cansada, e os.
Meus ossos doem, minha cabeça lateja e meu coração esta em mil pedaços
Pai quero, que me ajude, a limpar meu coração e colocar nele coisas novas.
Quero que somente tu estejas assentado no trono do meu coração.
Quero que saiba que te amo muito e desejo te servir, mas, sei que sou julgada.
E sou condenada, mas sei que te amo apesar de tudo, e sei que estas em mim.
Senhor fecha a porta do pecado em minha vida e me coloca novamente de pé.

    Deus respondeu em sua palavra com sua voz mansa e suave,
“Eu entrarei em sua vida e farei um renovo, fecharei a porta do pecado”,
Colocarei um canto em sua boca, levantarei sua cabeça, te farei coluna no meu.
Templo te chamou para ser cabeça e não cauda; hoje entro em tua casa em teu
Coração e farei morada. “Hoje começa nova estória em sua vida.”

      Helena, assim que entrou em casa se viu as voltas com a bagunça, roupas e sapatos espalhado, meditando na palavra, começou a recolher e arrumar tudo, olhando a poeira.
Passando o dedo por sobre os moveis, se sentiu feliz, cheia de vigor, uma nova pessoa.
Assim que limpou tudo, olhou para o presente que havia ganhado de seu pai aquele ser,
Maravilhoso que a enchia de vontade, lhe ajudando sempre que precisava.
     Sentou-se a frente do presente e dedilhou sobre o teclado, sorrindo sozinha;
Aquela noite foi especial, e desde essa noite nunca mais se sentira fora do ninho;
Mas não foi fácil, como um vídeo tape, as coisas foram tomando formas, e cores e a ferida estava ali cicatrizada. Pronta para abrir.

      A infância sem os pais, a criação na casa dos avos, a adolescência, difícil, o casamento que não deu certo, o preconceito por parte da família, por parte da igreja, o abandono das pessoas que amava o julgamento, a paixão, a falsidade das amigas, o querer ajudar aos que estavam à margem da lei, da sociedade, do amor, tudo veio em forma de faca rasgando o interior, dilacerando o que estava lá, escondido e guardado, aos poucos foi desabando em forma de lagrimas quentes e abundantes, no canto do quarto no chão frio onde se sentara, desabafou tudo que lhe ia à alma e sem pensar colocou pra fora, tudo aquilo que doía muito e há muito tempo estava escondido.
    Agora era nova mulher, a idade fez-lhe bem, chegou com um sorriso sapeca e um jeito infantil a fase adulta, hoje não era a menina que fora, mas guardou em si a magia e o sonho de ser alguém, e hoje é uma linda mulher, e a lembrança do que vivera ficou lá no rio em que se formou das lagrimas que caíram em abundancia pelo chão, que certo é que um anjo colheu e as levou à Deus que enviou uma resposta a seu coração cansado e triste agora cheio de vigor e feliz.

    O sabor de uma doce manha de outono se estendia por toda tarde e o cheiro de rosas se abrindo, o latir de cãezinhos, o cantar dos pássaros, o macio do veludo aquecendo ao sol, no varal peças guardadas de um inverno passado, agora a espera da próxima estação.
Logo um gato levado ronronando em suas pernas, um abrir de porta no quarto desperta a atenção, alguém querido, levanta-se da cama, e se prepara para mais uma noite de trabalho; lá fora a tarde se vai, e juntos de mãos dadas se preparam para mais um por de sol.


voce em mim.


Pisando de leve o jardim da emoção
La onde te escondi
Bem dentro do coração
Foi há muito tempo no passado
Há vinte anos,
Eu entrava no corredor de terra
Ao redor fitas de celofane
Rosas e brancas
E La na frente a segurar com firmeza
Você terno branco e faixa azul na cintura
Meu noivo,
E eu com arranjo de botões de roas natural
Cheirava que era uma beleza
Ah e o vestido branco reluzia
A face disfarçava a timidez
Um fogo me tomava às faces
Eu iria me casar,
E iria estar junto a ti
Naquela noite
Éramos meninos,
Jovens a começar a vida
Vinte poucos anos e nada de experiência
E uma vontade louca de fazer amor
De descobrir as delicias que imaginávamos
Aquelas que diziam ser pecado se não fossemos casados
Assim o senhor Joaquim me conduziu e me entregou a você
E ao fim da celebração, não éramos mais irmãos,
Éramos marido e mulher e isso me deu certa aflição
Naquela madrugada deitada nos seus braços, com meu corpo
Ardendo em brasa me entreguei você
Senti então a primeira dor que a mulher deve ter
Depois foram apenas alguns anos
E uma morena tinha que aparecer
Levou você, meus sonhos, e a alegria de viver
Fiquei eu só a viver
Perdi-me no mundo e fui ser mulher dos outros
Querendo ser somente sua a que eu fingia o prazer
No fundo o que eu sempre quis foi ser novamente,
Somente sua e de mais ninguém.

Me ame assim



Chama-me de anjo
Encontre-me em seus sonhos
De sempre outra chance
Não me abandone
Não se culpe
Apenas me ame
Sou um preso, não posso amar.
A vida me fez assim
Marginal!
Sem sonhos ou fantasia, apenas selvagem.
Sou um náufrago sem forças de nadar
Sou preso a grades que congelam o coração
Alivia a dor ameniza o sofrimento
Ame-me feito mãe, por favor, não tape os ouvidos
Ouça meu grito, sou carente de seus braços
Sou seu anjo levado
Não me deixe no passado
Eu preciso estar ao seu lado
Por tudo de bom e belo,
Foram poucos momentos...
Mas você foi e será sempre minha estrela guia.

Guerreiras da fial Nelson Hungria




Para você
Que fica na fila
Desde o amanhecer,
Olhadas de cima em baixo,
Como se fosse o último ser.
Para você,
Que encontra saída pra vencer,
Nas filas do presídio,
No frio e no calor
Sacolas e cobertor
Cheiro bom de comida
Cheiro de amor
Amor sincero
Para o filho, esposo, irmão.
Os agentes não entendem
Discriminam,
As agentes na revista, no quartinho,
A vergonha não existe se existir, raios X.
Abrem-se mulheres que não dormem sem camisolão,
Meninas dos sonhos do anexo e pavilhão.
Braços saudosos de abraços, corpos sedentos por amor.
O caminho rodeado de plantas que detentos molharam,
A espera da amada que ali vai passar.
A hora chega, passam-se os portões os agentes olham.
O desfile das mulheres, lá fora sandália de salto alto,
Cabelos escovados, roupa de festa.
Lá dentro chinelo de dedo, roupa sem detalhes,
Cores frias.
Por dentro a vida corre em direção a delícia de estar
Algumas horas com o amado.
Na fila, garotos vendem lugares,
Amizade sincera se encontra ali, dividindo as mesmas dores,
Costurando corações partidos,
Desabafos e injustiças ficam fora do portão.
Tem bonde, descida, ficam ali vidas divididas.
Na saída o aperto na alma,
Olhos marejados, futuro incerto.
Que vida!
Mas elas resistem bravamente,
No frio, calor, chuva...

Para essas mulheres, fica meu abraço e consideração.

A queda de um amor






Feito estrela cadente caiu
Em um mar tempestuoso
Foi sem tentar se salvar
Deixou para trás
A segurança de um coração
Não pensou no cuidado
Na sinceridade que o circundava
Quem sabe, se cansou da rotina.
E se lançou no mar
Seguindo a escuridão
O coração vazio a beira da praia
Molhando com lagrimas quentes
A areia fria
Não há volta...
O que ficou são apenas as imagens
Das ondas enormes levando para longe
O amor
Na praia o coração em mil pedaços
Espera ter força pra se juntar
E uma única esperança
Que tenha força para reconstruir

a face do meu medo





Na noite silenciosa de uma estação qualquer
Ouço apenas o pulsar de um coração
Feito cavalgada, um trote apenas
Depois uma corrida ao encontro do nada
Faces me vêm à mente, as faces do medo.
Como ruídos no silencio,
Ando devagar por ruas cheias de pedregulhos
Sinto o pé descalço sendo ferido
Alfinetadas pontiagudas, aonde vou não sei.
Não vejo nada alem de uma tênue luz distante
Por mais que caminhe nunca chego
Procuro me apoiar é tudo vago
O que me atormenta na noite silenciosa
É uma batida de coração, a face do meu medo
Tem o meu próprio rosto querendo me encarar

A casinha feliz.





Era uma vez...
Uma casinha feliz vivia em um lugar calmo e cercada de arvores, e os pássaros cantavam e os animais, passeavam pelas ruas em
Frente à casinha que sorria em seu mundo de cores, lá dentro da casinha, existiam vários quartos, com cores diferentes.
Todos os dias o sol a inundava de luz, calor alegria secando o orvalho da grama verdinha. Cada quarto era de um sentimento, cada amigo tinha o seu lugar na estante da casa.
Mas tinha um quarto nesta casa que era todo fechado e o sol não sei por que não passava por lá.
Um dia...
O sol atrevido achou de ir para aquele lado, procurou, procurou uma brechinha e encontrou, entrou devagarzinho com cuidadinho.
Nesse quarto, cor de gelo dormia um sentimento que aos poucos abria os olhos, estendia os braços se levantava devagar, de repente o sentimento começou a sorrir e o longo tempo adormecido fez com ele admirasse tudo a sua volta.
O sol não desgrudou mais desse sentimento e juntos brincaram e sorriram dias e noites, se alegraram com a chuva que caia, se escondiam nas arvores, e assopraram as nuvens que queriam separá-los, admiraram as flores e as folhas que o vento desfolhava.
Certo dia o céu se encheu de nuvens grandes e escuras, cheias e bravas, e os relâmpagos, vieram ventos fortes e o sentimento assustado resolveu se esconder, mas não foi mais para o quarto de onde saiu, encontrou um quarto claro de frente para a nascente da cachoeira e quando o sol chegava ele espreguiçando, sorria para o novo dia, as cores vivas do arco-íris estava no lago em reflexos luminosos.
Os dias de tempestade foram apenas um meio de separar por um espaço de tempo o sentimento. Esse novamente adormeceu e o tempo de acordar novamente, eu não sei Deus o sabe.
OBS: a casinha é o meu coração, o sol alguém que chegou, a tempestade, o motivo de uma separação, o sentimento que dormia é o amor.

o homem só


                 

    A noite ainda não havia terminado, o céu negro brilhava ao resplendor das estrelas e uma lua minguante deslizava suave, o vento frio alertava que logo a madrugada chegaria. Mas para ele essa madrugada não deveria chegar jamais, as rajadas do vento pareciam cortar-lhe a alma, a barba por fazer, o cabelo em desalinho, a roupa amassada e a vontade de que aquela noite não terminasse nunca.
    Na cabeça as imagens se formavam as lembranças de um tempo voltava à tona, eram sorrisos, abraços, brigas banais, risos infantis e choros acalmados por carinho cheio de afagos.
    De manha se levantava cedo, ajeitava o terninho, segurava firme a pasta. Saia para a escola, no caminho se encontrava com o amigo de sempre, seguiam com passos rápidos sempre pensando no jogo que ia rolar a tarde, o campeonato de bolinha de gude e na queimada com as meninas da rua.
    Na escola não era o melhor, sentava lá atrás, onde podia ficar a vontade e sempre dava uma colinha para os amigos que eram mais disperso que ele...
     Não se podia tudo, mas quase tudo era possível para ele, em casa tinha seus deveres, e ainda ajudava a cuidar das irmãs menores, também por ser o mais velho tinha em si o conselho e a forma certa de acalmar os mais novos, em troca ganhava escondido o olhar carinhoso da mãe, aquela senhora bonita sempre com um coque no alto da cabeça, cabelos negros e olhos grandes o corpo esguio firme, apesar dos filhos ainda guardava o porte seguro de uma mulher sedutora, vivia entre os bordados e as rendas, e assim ajudava o esposo, esse trabalhava duro, chegando muitas vezes tarde do trabalho, e ao chegar tinha sempre um bule de café junto ao fogão, ao lado biscoitos que ela assava em grandes tabuleiros, enquanto no alpendre em frente a casa o sol já havia desaparecido. Olhar os dois juntos naquela cozinha grande o chão brilhava, o reflexo dos dois corpos unidos os braços fortes na cintura fina lembrava uma formiga agarrada a uma arvore, cenas lindas de uma união perfeita, muitas vezes, os olhos choravam, era fim de mês e o pouco que sobrava terminava na madrugada em que se ouvia o som de uma discussão, ele chegara tarde, e mesmo assim ela no dia seguinte, estava com um sorriso nos lábios e dizendo que nosso dia seria um grande dia. Lutara sempre com uma garra por tudo que queria o terreiro era extenso ao longe, bananeiras, goiabeiras e mangueiras no fundo um riozinho corria livre, uma cisterna de onde tirávamos a água para encher os tambores, havia também uma mina entre as arvores onde uma enorme jabuticabeira enchia os olhos e a boca da molecada, aos domingos se levantava cedo, a igreja que ficava a alguns km.
Percorriam a pé e pulando de alegria, papai, mamãe de mãos dadas, e os cinco correndo na frente, sorrisos e a certeza de que depois iríamos brincar na praça enquanto os dois sentados no banco conversariam e nos correríamos ate o rosto ficar vermelho, na praça o jardim com suas flores diversas, coloridas, e um cheiro que não sai da lembrança. Os anos da infância não houve contratempo, mas todo mundo cresce e esse crescer dói.
    Quando a adolescência chegou, sabia que não seria fácil, já de posse de seu diploma era hora de encarar o colegial, as garotas os rapazes mais velhos, estudaria a noite, e ajudaria o pai no campo assim estaria por perto da mãe e continuaria ajudando os irmãos, pensava assim...
    Mas não foi dessa forma que aconteceu chegou uma oportunidade, iria para a cidade grande, moraria com a tia e trabalharia em uma fabrica junto com o tio, assim, recebeu a noticia, o pai queria um doutor dentro de casa, e seria necessário que fosse dessa forma.
    A noticia veio como uma bala destruindo o sonho de estar sempre perto da adorada mãe, como era linda, amiga e meiga e como os anos não passavam para ela, como viveria sem os biscoitos cheirosos e os beijos que ganhava enquanto fingia dormir, e as irmãs, todas três com seus cabelos compridos, trançados e amarrados olhando para o seu rosto esperando a próxima estória que iria começar, e o seu irmão, único irmão sempre calado a olhar a mala sendo arrumada, amarrando um choro e engolindo em seco, a noticia veio como bomba, mas a ultima palavra sempre era a do pai. E se ele disse assim, certamente era o certo.
    O ônibus saiu de madrugada, era a primeira vez que viajava, saindo de perto da mãe, no escuro daquela primeira madrugada sem ela, ele chorou e sentiu a solidão o abandono e chorou ate que adormeceu, chegou à cidade com os primeiros raios de sol, ao olhar os prédios altos um rio cortava a cidade, cheirava mal, ainda se lembrava, do odor o ônibus parou e todos iam descendo devagar, entregando os bilhetes, mas o sentimento que ele tinha naquele momento era o de não entregar e ficar quietinho no final do ônibus, e voltar para trás, lá fora os tios olhavam sorrindo esperando que ele descesse, ele então se levantou devagar, o no começou a se formar, e engolindo as lagrimas pensou nas palavras do pai, seja forte, o homem tem que se desprender cedo e seguir o melhor caminho, e quem disse a ele que esse era o caminho certo? Arrumou a mala e desceu. A rodoviária fedia a restos de comida, papeis e mendigos dormiam nos bancos, o abraço apertado do tio, ele havia engordado a barriga parecia uma bola suspensas segura por uma cinta, o bigode também crescera, era largo e fazia com que seu rosto ficasse mais serio, a sobrancelha estava branca assim como os lados da fronte, o sorriso sempre nos lábios mostrava que os dentes há muito não via um dentista, era a vez de a tia lhe abraçar, ela era magra com os sinais de mulher vaidosa, os cabelos negros caiam nos ombros, cheirava a tinta, os olhos com sombra e na boca pequenas rugas, o batom destacava os dentes brancos, o rosto não dizia muito sobre ela, o abraço foi forte e rápido, disse com voz firme, vamos, pegue suas coisas. Foi caminhando com passos largos, as nádegas remexiam tanto que deixava tonto. as pernas grossas a cintura fina,os seios apareciam no decote avantajado,  aquela mulher era muito diferente de sua mãe, não tinha o olhar gracioso e a doçura de um sorriso, não tinha carinho. Olhava de um lado para o outro como se procurasse alguém. Não esperava ninguém caminhava apenas.
    Parados em frente a uma caminhonete estava os primos, garotos da cidade, com cara de que sabiam muito e já eram rapazes, trabalhavam com o tio no comercio, estudavam a noite, não eram feios, mas muito diferente dele, que tinha os cabelos lisos e um olhar negro combinando com o sorriso e a alegria de viver; ao entrar no carro, ficou ali espremido, porque cada um queria ir à janela. O tio mostrava a cidade, os edifícios enormes, à praça central, o ônibus. Ali não tinha um jardim, uma praça, e nem um gado pastando, apenas pessoas correndo, apressadas, lendo jornal, nas esquinas pessoas querendo atravessar e anúncios diversos, não demorou muito chegara a casa, dois pavimentos em baixo ficava a loja, que logo seria aberta, a escada ficava ao lado onde uma moça loura do outro lado do muro observava, seu olhar era profundo e ao mergulhar ali naqueles olhos, era como se estivesse mergulhando em um lago negro que dava medo, seguiu subindo tropeçando por não conseguir desviar o olhar, todos riram explicando que aquela era Dora, e ela era mesmo linda,
e fascinante, mas tinha um namorado, e ele era muito novo para ela. A grande porta se abriu, de lá de dentro veio duas moças a lhe abraçar, eram as primas, e mal se podiam conter a admiração. Na sala grande os moveis rústicos, cortinas e sofás com grandes almofadas, logo a frente uma copa com mesa grande  com cadeiras estofadas, um aparador, um espelho de onde se via tanto a sala quanto a copa, o chão brilhava o vermelho era vivo, e os tapetes claros davam um toque de realeza, logo a esquerda a grande cozinha o fogão era todo esmaltado, os armários de madeiras e um gato gordo dormia no canto, viu uma imagem ao fundo onde uma santa tinha uma luz vermelha e velas, e uma porta que dava para um quartinho, era ali que se guardava as vassouras os baldes, e todo material de limpeza, tinha uma janela de onde se via o jardim da outra casa, uma cama arrumada onde ele dormiria.
    Deixou a mala em cima da cama, olhou para o pequeno armário onde colocaria as roupas e saiu para ver o quintal, e esse era grande, tinha pés de jabuticaba, manga, ameixa, goiaba e um pé de limão bem ao fundo. Foi devagar sentindo o cheiro de flor e deixando que o sol da manha lhe dourasse o rosto em pequenos vãos que abria entre as folhas, bem no canto dormia um cachorro que ao vê-lo latia, mas logo se acostumou e deixou que o afagasse, o quartinho onde guardava ferramentas viu uma boneca de pano, como sentia falta de sua pequena irmã, e que falta estava lhe fazendo a mãe, era uma dor insuportável e antes que as lagrimas começassem a cair, o tio lhe tomou o ombro, e o fez engolir cada lagrimas que vinha aos olhos estava ali, um homem e um menino que o pai já julgara ser um homem, ele só queria fugir, e ir de encontro aos braços da mãe. O tio lhe apertava o ombro e dizia palavras confortadoras, tão diferentes de seu pai. A tia chamou para um lanche, sentou-se na grande mesa da varanda, comeu o pão com manteiga, o café com leite, uma maça. Olhou para a tia que não tirava os olhos dele, e quando ela sorriu, notou algo estranho naquele olhar. Depois desceu as escadas, olhando mais uma vez na direção da casa ao lado, onde o olhar da vizinha o impressionara, chegou ao armazém do tio. Quando notou a tia atrás de si levou um susto que ele não entendeu porque, atrás do balcão uma moça pálida espanava as mercadorias, um gato dormia no canto, no fundo as caixas empilhadas, a tia pegou uma vassoura e colocou em suas mãos, balde e um pano e assim começou o trabalho.
    Na hora do almoço a salada o arroz e feijão, uma carne seca e um copo de água que lhe trouxeram, sentado no caixote lembrou da mãe, do almoço e do café, na beira do fogão a lenha. Engoliu a comida e logo a tia estava ali olhando com aquele olhar estranho, a tarde  chegou e enfim a noite, os braços doloridos e um aperto do peito, ali naquele banheiro pequeno e escuro, sentia os pingos frios do chuveiro, isso fez com que despertasse e lembrasse do rio que corria no fundo de casa, o sabão escorregadio não cheirava como o que sua mãe fazia e a toalha raspava-lhe as costas como farpas, ao subir os degraus viu por trás da cortina vizinha um sinal de Dora  da manha, lhe olhava fixo e interrogativa, ao bater a porta alguém gritou que entrasse pelo portão ao lado, ou bem pelos fundos, e ele entrou por um corredor que contornava a casa, ficou ao pé da porta sem jeito de entrar, ate que a tia chegou e pedisse para entrar. O prato de comida estava na mesa, sentou e jantou sozinho ouvia-se um murmúrio de conversas e risadas no interior da casa, ao terminar lavou o prato e o talher na pia grande de mármore e sentou no degrau que dava para o quintal, ali sentiu a garganta se fechar em um nó e as lagrimas caindo em cascata por seu rosto jovem, ainda chorava quando o tio lhe abraçou, e entrou ao ouvir o grito da esposa que o chamava no interior, logo depois entrou no pequeno quarto sentindo o cheiro de desinfetante e outros materiais de limpeza.
    Duas horas da manha, alguém lhe tocava, acordou assustado achando que já era hora de se levantar, a tia estava ali, o roupão entreaberto e um cheiro bom, olhava para ele puxando-o para si, beijou-o na boca e ele sem entender o que acontecia sentia seu corpo explorado e seu órgão genital sendo engolido por uma boca nervosa e aflita, ele na posição inocente de menino, sem saber o que fazer, ela então lhe explorou de todas as formas e ao sentir o liquido de si mesmo sair sem saber o que era, teve nojo e vomitou, ela então se levantou, como se nada tivesse acontecido e saiu, ele tremulo, sentia a dor e o abandono, não dormiu o resto da noite, e quando ouviu barulho na cozinha se levantou a tia veio em sua direção, e ao ver toda a sujeira lhe bateu no rosto perguntando porque ainda não limpara a sujeira que fez, nesse instante, ele saiu correndo pulou a grade da casa e so parou quando estava longe, bem longe daquele lugar, não voltou para buscar suas coisas, apenas correu.
    O sol já estava alto quando sentou em uma ribanceira, do outro lado apenas pasto e ovelhas, gado,
 Alguém que lia um livro desceu. Cainhou quase meia hora, ate chegar aquele homem, esse ao vê-lo não disse nada apenas o olhou ofereceu água sentou ali perto, e na sombra da arvore dormiu. Sono pesado cheio de pesadelos.
    Quando acordou a noite ia alto e na mesa ao lado um jarro com água e pão, molho e um pedaço de rapadura do outro lado.
Uma cama vazia aguardava alguém para deitar, o travesseiro tinha cheiro de flores do campo viu que estava com roupas que não eram suas, o teto de telha brilhava e a claridade entrava por gretas da parede de madeira, ao olhar para frente viu que alguém estava sentado na cadeira que balançava devagar, por um instante teve a sensação de que sua mãe estava ali, de alguma forma e passou a mão no cabelo molhado de suor, fechou os olhos e sentiu que alguém lhe tocava a testa, ajeitou o cobertor ate os ombros e saiu. Não viu mais nada.
    O cheiro de café e bolo vinha da direção porta e vozes alegres falavam dele, sentindo a paz e o aconchego se levantou devagar, as lembranças dos tios e primos vieram em sua direção, o que
 fez retrair sem saber o que fazer, nessa hora a porta se abriu, e uma jovem senhora veio sorrindo ao seu encontro, atrás uma menina da idade de sua irmãzinha e outro menino mais velho lhe olhavam um bebe se arrastava no chão da casa e um homem com traços rudes mas de olhos suaves lhe olhavam. Foi a bela senhora que lhe deu o primeiro bom dia em seguida os outros e ao se sentar na mesa lhes contou tudo ate onde sabia, e o senhor que nada dissera falou da forma que o encontrou e o trouxe para casa, falou dos delírios, do que dizia e foi ai que ele viu que nem todo mundo era igual aos tios, foi ali naquela roça que aprendeu o oficio de marceneiro, pintor e também pedreiro, mas tinha dentro de si o desejo que ardia, iria estudar e ser doutor, para isso que fora ali, e foi assim na  vila , a pequena cidade escondida no vale,encantadora, e simples que ele chegou a maturidade, o dia amanhecia e logo estava na roça, no curral trazendo leite, colhendo as verduras que seriam vendidas na cidade grande, o grande chapéu escondia o seu belo rosto, o cabelo negro era cortado reto, pouco falava, mas nada escondia do passado e a saudade dos pais ainda o perseguia.
    Olhava no espelho o rosto, se barbeava e passava a colônia colocava camisa branca e ia para a igreja, cedo tinha o culto ali cantava, louvava e saia levando a bênção no coração. O domingo era sempre igual, após lavar a louça e secar ajeitava o violão e tocava. s crianças cresceram os dois envelheceram e ele já era homem feito, precisava decidir o que fazer na vida, ao ouvir o som do violão, os dois em suas redes dormiam e o que antes era um bebe, ajeitava a calça e a camisa pegando um boné saia para o encontro, os anos passaram e ele nem percebeu o quanto fora feliz; mas alguma coisa o incomodava, era o sonho o desejo de algo que não sabia o que era, olhou os dois dormindo, olhou para si mesmo, e decidido, resolveu partir, juntou o que arrecadara ao longo dos anos, e prometeu voltar, mas não sem antes cumprir o que viera ali fazer, ao abraçar os dois, na despedida deixou Jane na porta ao lado dela Tiago, o namorado, no fundo Julio tentava fazer o filho parar de chorar e Pedro tentava segurar a lagrima que teimava em cair.
    Chegou à cidade com seu jeito caipira mas com palavras bem faladas e esclarecidas, alugou um quarto na pensão, no dia seguinte procuraria emprego, já tinha na mente onde iria, nas idas e vindas conhecera muita gente e o comercio era familiar, ia montar um negocio, mas para isso precisava de capital, e esse capital ele sabia onde encontrar.
    Saiu na noite escura e a voz de Juliana veio em sua memória, pedindo para que ele tomasse os devidos cuidados e não se envolvesse com qualquer uma, cuidado com os homens da cidade, era tanto cuidado, assim como tratava os filhos, assim o tratava, não deixou nada a desejar de uma mãe, e ele não iria decepcionar nem a ela e nem a sua mãe, sentiu o cheiro da vida noturna, os bares e as boates, que tanto Julieta temia e alertava, o que tinha ali? Sua mente não guiava seus passos, pois foi ali que ele entrou, seu cabelo liso e seus olhos negros sua altura e seu porte atlético chamou logo a atenção, ao entrar não percebeu que alguém o olhava, e foi sentar-se ao fundo, ali podia ver quem chegava e quem saia, e ela veio ao seu encontro, os anos não fizeram grandes mudanças, apenas gastou um pouco a pele e o cabelo ainda eram louros, o corpo que ele vira tão pouco ainda guardava certo ar de juventude.
    Dora estava ali bem à sua frente, e ele homem feito, não havia percebido o quanto aquele olhar lhe fizera falta, ela então se sentou a sua frente, e falaram-se por muito tempo, nada disse a respeito dos tios, apenas dela mesma e o porque de estar ali naquela vida, ao sair deixou na mesa o valor da bebida e da noite que ela cobrara. Prometeu voltar, mas sabia que ali não pisaria mais. Ele seria mais um na vida dela.
    Chegou ao quarto da pensão e viu na porta correspondências, era de Juliana avisando que naquela noite o esposo falecera, e que era preciso ir vê-la.
    Ali chegando se lembrou da primeira noite que chegou, do primeiro amanhecer da força e agilidade daquele homem, de tudo que fizera por ele, aquela sua família precisava mais do que nunca de sua mão. E foi o que fez.
    O dia nascera limpo sem nuvens e o ar seco indicava o calor, a viagem fora cansativa o trabalho na empresa estava sendo satisfatório, era motorista e o caminhão levava para outros estados o fruto de granjas e hortas do campo. Mãos firmes no volante e uma estrada adiante sentiam que ficava para trás mais uma família, mais um capitulo de sua vida.
    A estrada ficava cada vez mais quente, dali a algumas horas chegaria ao seu destino, parou para abastecer e tomou o café, bem atrás um velho senhor lhe pedia que pagasse um café, ele pagou e continuou o seu, mas o velho insistia querendo outra coisa, o que ele não pensou duas vezes, pagou e continuou, sentiu que aquele velho queria lhe dizer algo, mas calou, ele então entrou novamente no caminhão e seguiu viagem.
    Chegou a grande São Paulo, edifícios, mansões e um rio fétido cortava o centro se lembrou que antes de sair, Julieta havia pedido que não deixasse de dar noticias, e foi o que ele fez, ao ouvir a voz de Julieta seu coração ficou feliz, ela sabia mais do que ninguém o que ele planejava, e isso o deixou satisfeito, ela o abençoara e ele então se foi.
    Foi ali naquele hall do Grande Hotel que conhecera Mariza, loura e de olhar penetrante, verdes e pintados as roupas negras grudadas no corpo, uma tatuagem iniciando no pescoço terminava no inicio dos seios que quase saiam do decote, os lábios grossos e vermelhos o queixo tinha covas que o deixaram parado no meio do hall sem atitude, com as  folhas de entrega nas mãos.
   Ela era linda e ao perguntar em que podia ajudar, trouxe algo que não se esqueceu nunca, seu sorriso, sua doce voz encheu o de alegria ele sabia que jamais seria o mesmo. Não demorou a estarem todos os dias juntos e enquanto esteve ali na cidade esteve ao lado dela, todas as vezes que estava na cidade era ali que hospedava, não tinha dinheiro para aquele luxo, mas ela fazia com que ele ficasse, e as roupas eram tantas que levaria anos para vestir tudo, sapatos, ate mesmo cartão de credito, mas ela não o apresentava aos pais, nem mesmo deixava que a levasse em casa, dizia que era cedo e eles não estavam preparados, ate que um dia ele estava decidido a colocar um ponto final e a seguiu, viu o carro deslizar por uma avenida e parar em um grande condomínio, esperou para entrar, o porteiro não deixou, anunciou o nome da pessoa procurada, e não existia nenhuma Mariza ali no local, no outro dia, perguntou onde ela morava e ela mentindo deu outro endereço, naquela noite fingia que dormia e enquanto ela tomava o banho, olhou na bolsa, pegando ali um cartão, era de um advogado, pensou que sendo assim ele teria condição de chegar ao fim do mistério, no outro dia cedo, buscou o cartão e foi em direção ao endereço, viajaria ainda naquela tarde, era preciso desvendar logo, foi assim que descobriu Mariza era casada e tinha dois filhos, e gerenciava o Grande Hotel, que era também de seu esposo. Agora sim, via o risco que corria.
    Saiu naquela tarde, levando tudo que ela lhe dera, e disposto a nunca mais procurar por ela, foi pensando assim que saiu apressado, olhando para trás, viu que ela estava envolvida com tantos hospedes que nem notaria sua ausência. O horário deles estava perto e foi melhor assim, sem despedidas, lembrou de Dora, seriam todas iguais?
    Olhou o pequeno hotel em que se hospedara antes, o rio malcheiroso e a falta de um jardim a frente fez com que apresasse a volta para casa.
    Tinha ainda dois dias de vantagem, resolveu passar na pequena cidade em que nascera, olhar os pais e ver como estavam indo, tinha agora condição de ajudar caso precisasse, viu de longe que não mudara muito, ruas de asfalto telefones públicos e a velha praça agora estava cercada de lojas, sorveteria,  ate mesmo uma pequena oficina e uma prefeitura ostentava a bandeira do pais. O caminhão não era novidade, como era no tempo da infância, todo mundo cheirava, pegava, tinha curiosidade. Parou ali a frente da casa, os degraus vermelhos agora eram gastos de cimento, as janelas escuras abertas crianças brincavam na calçada de pedra, não tinha nada que lembrasse a sua casa e parado ali na frente olhava o interior, o jardim tinha flores e uma senhora saia para fora colocando as crianças para dentro, saiu para fora nervosa perguntando o que eu queria, ela era minha mãe, aquela mulher linda da lembrança envelhecera, os cabelos agora eram curtos, vestia um vestido de bolas grandes e segurava no colo uma criança de olhos negros e cabelos lisos chorava pois o rosto estava molhado, ficou ali olhando e como não respondia abriu o portão, e quando percebeu a estava abraçando e o rosto de lagrimas e o soluço que seguro por anos saiu da garganta.
  Abraçado a ela viu que ainda era um menino e queria colo.
  Ao entrar tudo era diferente de quando partira, soube que o pai havia muito tempo se enrabichara por outra e saiu pelo mundo, bebia e ficava como andarilho, os irmãos eram casados e aquelas crianças eram sobrinhos, saiu para ver o quintal, sentiu que nada havia mudado, apenas envelhecera, o bambuzal continuava no mesmo lugar, o riozinho agora era poluído e não dava para beber água, nem os peixinhos sobreviveram, a noticia de seu desaparecimento chegou ali, de uma forma diferente da verdade, mas tinham que dar alguma satisfação, ele apenas sorriu e depois de um longo abraço mais uma vez partiu, prometendo voltar o que sabia que não faria.
    Conheceu Sabrina na noite quente do Rio de Janeiro, não entendia porque uma jovem tão linda ficava ali, a espera de quem a quisesse, como se fosse difícil querer aquele corpo e aquele sorriso contagiante, ele a levou com ele e eram como almas gêmeas, riam falavam a mesma língua e não havia hora certos para o amor, juntos fizeram acontecer o amor. Ela estava grávida, e ele queria aquele filho mais que tudo na vida. Alugou uma casinha simples, em um bairro nobre, o que recebia era o suficiente, e tudo estava dando certo, mas no sangue de Sabrina corria um desejo de voltar a vida e a rotina das noites quentes do Rio, e aos poucos o desejo de se tornar dona de casa e mãe de filhos ia desaparecendo,o amor esfriando e ela se viu traindo, o filho crescia e se tornava cada dia mais forte e saudável e o desejo desaparecia pelo marido, e certa noite em uma rua escura, ela se perdeu na boleia de um caminhão, indo embora sem deixar  vestígios, apenas uma carta pedindo perdão e ele ali, com a carta na mão, o filho dormia como se nada estivesse acontecendo, no outro dia o deixou em uma creche e ao voltar do trabalho ele estava queimando em febre e por mais que procurasse não encontrou a mãe, única solução, e depois de muitas noites no hospital, o filho o deixava uma infecção generalizada não deixou que vivesse, no cemitério apenas ele e o caixão, pessoas de outros velórios estiveram ali para despedir do anjinho. O seu anjinho. Sem saber agradeceu a Deus, pois escrevia certo nas linhas tortas.
    Passaram meses ele chegava de uma viagem longa, cansado e com fome.
Naquela noite algo o incomodava, sentia medo, tristeza, como se algo estivesse acontecendo e ele não estivesse sabendo, leu a ultima carta de sua mãe, e essa queria muito vê-lo novamente, lembrou na carta suas travessuras, falou de seu amor e de sua saudade. O abençoou e finalizou.
    Olhou-se no espelho viu pequenos fios brancos se formando, não entendia o porquê de tudo, entendia que precisava de um sentido na vida só não sabia por onde começar caminhou alguns passos e ouviu o telefone tocar, atendeu e saiu.
   Na capela, entrou devagar, sentou no banco e chorou a dor dos mortais, da perda, do abandono.
    Não sentiu quando pequenas mãos lhe apertavam os ombros e acariciava os seus cabelos, em seus ouvidos ouviu as mesmas palavras da infância, o mesmo gesto.
    Levantou-se devagar, não havia ninguém ali, mas a dor passara, saiu devagar e recostou na pilastra, dali a pouco o corpo de sua querida mãe chegaria pela ultima vez a veria.
   
    A noite ainda não havia terminado, o céu negro brilhava ao resplendor das estrelas e uma lua minguante deslizava suave, o vento frio alertava que logo a madrugada chegaria. Mas para ele essa madrugada não deveria chegar jamais, as rajadas do vento pareciam cortar-lhe a alma, a barba por fazer, o cabelo em desalinho, a roupa amassada e a vontade de que aquela noite não terminasse nunca.



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Maria


                        MARIA

         Era a primeira semana de agosto, quando nos conhecemos, ela estava tão distante, parecia querer ouvir o som do próprio grito. Começamos a conversar, ela queria apenas um ombro para se aconchegar, mas não confiava em mais ninguém, sofria por dentro.
         Seu nome. Maria trazia o sol nas mãos, o brilho do luar nos olhos, o resplendor das estrelas.
         Sombras tentavam encobrir seus sonhos, mas acreditava que “amar podia dar certo”.
         Buscava encontrar o amor, acreditava que alguém iria chegar e ficar, cuidar do seu coração magoado. Gostava do sol, vibrava com a beleza da lua, gostava de flores e poesias. Sentei-me bem próximo a ela, podia ver o brilho dos seus olhos, nossas almas se uniram e eu senti toda força de Maria, mas não poderia ficar em sua vida, e fui embora deixando um rosto para ela amar e um coração cheio de sonhos, acreditando no amor.
        Fui sem deixar rastros para ela me achar, eu queria ser amado por ela, não um compromisso com o amor. Fiquei dentro de Maria, seu coração me levava para onde quer que ela fosse, através dos olhos dela, eu via tudo belo, o sol que ela assistia nascer, deitada na rede contemplava o céu, gostava da chuva, e andar descalça enquanto a chuva caia , era sua alegria.
        Mesmo não vendo Maria, sentia a força desse amor. Uma garantia que ela não iria me decepcionar, que os anos, passariam com ternura, ao lado dela, seria tudo novo, mas eu não tinha a garra e a coragem de amar alguém assim como ela me amava. Ela acreditava que um coração partido poderia ser reconstruído. Amava sem cobrança, amava amar.
        De dentro dela, participava de sua rotina, do seu despertar às 05h45min, da manha, espreguiçando e soltando o travesseiro que dormia abraçada, o banho quando ensaboava meu e ensaboava meu cabelo e beijava meu rosto, cheio de xampu. Fazia o café, calmamente o tomava não se importando de estar nua, se sentia uma deusa grega em seu lar, cercado de plantas. Penteava o cabelo me vendo ao lado no espelho, depois de pronta um beijo no espelho, bom dia para casa e um olhar para as plantas.
        Ela saia me arrastando junto, de dentro dela eu via o sol dourando seu rosto, o sorriso que surgia, estava começando seu dia.
        O trabalho, a escola, a igreja, a solidão, os amigos, as lágrimas que de dentro dela eu impedia que caíssem, as alegrias e os momentos de carinho, as decisões e as aflições, eu segui dentro dela uma viagem fantástica, nossas almas unidas lembrando fatos e rindo a toa.
         À tarde o sol se põe e Maria esta em alguma rua olhando e me vendo nela.
         O dia termina.
          Agora só comigo no pensamento.
         Maria foi uma criança só, cresceu sem os pais e na infância não soube o significado de carinho.
         Começou a trabalhar cedo, inventou seu próprio estilo, escolheu a solidão como companheira. As amizades falsas desiludiam seu coração, muitos magoaram seu coração, mas ela acreditava no ser humano e continuava amando por esporte, não aceitava que o coração ficasse vazio e quanto mais amava mesmo não sendo correspondida, não desistia do amor e amava tudo e todos.
        Em seu aniversario, queria ganhar um presente meu, eu poderia ter cumprido seu desejo, ela sorriria feliz ao ganhar uma arvore e me vendo sorrir.
       
       Eu deixei Maria com seus devaneios, seus sonhos de amar um homem que nada tinha para lhe oferecer, eu sei que ela foi apenas uma ponte para que eu pudesse encontrar um caminho, nada mais que isso. Nas noites, os bares cheios, eu vejo em cada rosto que olho cada boca que beijo e em cada corpo que amo, um pouco da mulher que eu não possuo. Sinto que Maria me olha sem rancor, sem ciúme depois de ter sido traída ela passou a ter amor ou pena das mulheres.
       Ela tentou esquecer-me, chegou bem próxima a um outro rosto, mas nesta hora, eu que estava dentro dela, materializei em sua frente e ao olhá-lo ela me viu, me olhou nos olhos e ao ver meus lábio, desistiu. Pobre rapaz, sem saber o que acontecia, olhava Maria com seu olhar distante pairando longe, bem longe dela.
       Na mesa do restaurante escrevia meu nome na toalha e pingava gotas de refrigerante na palavra “eu te amo nossas almas riam e brincavam o nosso espetáculo só nosso, e ela sorria apenas”.
       Lá se vai mais um dia, calçadas cheias, os ônibus lotados, e a hora que cada um volta para o lar, para os braços de alguém.  Começa a escurecer, o sol vermelho se prepara para nascer no Japão. As horas passam rápidas. Da mesa do bar, vejo uma nuvem enorme se formar, da cor negra, e o que sinto é intransferível; algo esta para acontece. O sol lança os últimos raios de sol e se vai.
       Uma tempestade começa e uma mulher caminha calmamente na chuva forte, a água lhe molha os cabelos longos, o vestido floral de tecido leve cola ao seu corpo, é Maria que se deixa molhar dançando na praça, brincando com a água.
       Petrificado fico olhando, sinto que será de mim e o meu eu interior se encontra com ela, as mãos se tocam, os lábios se unem numa linguagem muda se despedem Maria foi ficando pequena e começou a flutuar, um olhar aquela alma que diz amar, se transforma em um pingo de luz e se foi entre um relâmpago e outro.
       Senti-me só, sei que muitas mulheres me amarão e eu talvez ame algumas delas, mas o amor de Maria, com a intensidade e a sinceridade eu não mais encontrarei.
       Quando tudo ficou calmo e a chuva caia em gotas finas, notei que uma mulher surgia e era dura como pedra, fria como o gelo, de seus olhos saíam faíscas de indiferença, dos lábios um sorriso cínico surgia.
       Algo nela me fez lembrar minha Maria que me amava e me queria do jeito que eu era, inteiro ou aos pedaços, me beijava a face, percorria meu corpo com a língua, me amava de um jeito selvagem, nos amávamos, e depois dormíamos abraçados como bêbados de amor.
       Mas ela se foi na tempestade em que transformei a vida dela e eu perdi minha Maria, e a chance de viver um grande amor.
       Agora nas noites de chuva, eu posso ver um corpo dançando a luz dos postes e as gotas D’água me lembram o gosto molhado do beijo dela e ainda posso ouvi-la dizer com sua risada franca.

                             Amo-te